Therezinha Zerbini recebeu a Anistia Divina e foi descansar da luta.
A Advogada Therezinha Zerbini faleceu ontem em São Paulo, aos 87 anos. Nos anos 80, foi minha sócia no início de carreira na Advocacia. Therezinha foi viúva do general Euryale de Jesus Zerbini . Eles se conheceram em 1951, quando ele comandava a Força Pública e ela trabalhava como assistente social do Hospital Mandaqui, no atendimento a crianças tuberculosas.
“…O general Euryale comandava a unidade de Caçapava à época do golpe militar de 1964 e foi um dos quatro generais (o único com comando de tropa) a assumir uma posição legalista, contrária aos golpistas. Por isso acabou por ter seus direitos políticos cassados e foi reformado.
Por ter ajudado Frei Tito a conseguir o sítio (pertencente a um amigo da família Zerbini) em Ibiúna, onde seria realizado o congresso da UNE – organização proscrita pelo regime – Therezinha respondeu a um inquérito policial militar. Foi indiciada em dezembro de 1969 e afinal enquadrada na Lei de Segurança Nacional. Foi presa em sua casa, no dia 11 de fevereiro de 1970 e ficou na prisão por oito meses. – seis dos quais no presídio Tiradentes, em São Paulo. Na prisão conviveu com a então guerrilheira Dilma Roussef.
Em 1975, declarado pela ONU Ano Internacional da Mulher, criou o Movimento Feminino pela Anistia (MFPA), unido à luta pela redemocratização do Brasil. No mesmo ano, ocorre a morte do jornalista Vladimir Herzog na prisão, seguindo-se, na Catedral da Sé, a primeira grande manifestação popular de protesto, desde o AI-5. Ainda em 1975, o Movimento lança seu manifesto em favor da anistia ampla e geral, conseguindo colher 16.000 assinaturas de apoio, e empenhou-se nas denúncias sobre a existência de presos, torturados e perseguidos políticos no Brasil – fato que por muito tempo fora sistematicamente negado pelo governo militar. Daí por diante foram sendo formados Comitês Femininos pela Anistia nas principais cidades do país…Em março de 1978, durante a visita do então presidente norte-americano Jimmy Carter a Brasília, Zerbini conseguiu driblar a segurança e entregar uma carta à primeira-dama, Rosalynn Carter, em nome das mulheres brasileiras do movimento pela anistia. A carta, sem fazer referências diretas ao regime, dizia, na abertura: “Nós, que lutamos por justiça e paz…” Embora considerada comunista, pelos órgãos de segurança e como feminista pela imprensa, Therezinha Zerbini declarava nunca ter aderido a nenhuma dessas correntes.
Após a revogação do AI-5 (1978), esteve ao lado de Leonel Brizola no processo de refundação do PTB, em São Paulo, e depois, na criação do PDT, em 1979, quando Brizola perdeu a sigla para Ivete Vargas.
Segundo ela “criar a Comissão da Verdade é bom. Não espero coisas novas, porque já vi tudo por dentro. Mas é preciso dar a oportunidade para os outros sentirem e verem. Como diz Santo Agostinho, o coração é a sede da memória…”
Fonte Wikipedia
A Dra. Therezinha Zerbini, morreu no dia 14 de março de 2015, Durante o seu velório no cemitério do Araçá em São Paulo, o frei que conduzia religiosamente o ato, disse que desconhecia (!!!) quem seria a dona do corpo que estava sendo velado. Logo em seguida um grupo de amigos presentes, como eu, se manifestou em homenagem a ela, trazendo a lembrança de sua trajetória política. Agora, Sr. Frei, espero que como todos que leram este texto, o Senhor passe a conhecer o passado desta lutadora social. Se não existisse gente como a nossa Therezinha Zerbini, possivelmente não existiria democracia como temos, nem as manifestações que teremos ao longo do dia de hoje.
Democracia se constrói com resgate e respeito histórico.
Por sua memória, querida amiga, lutarei todos os dias. Descanse em paz, nossa mãe coragem.
Lívio Enescu
Presidente
Associação dos Advogados Trabalhistas de São Paulo – Sempre Vigilante na Defesa dos Advogados Trabalhistas de São Paulo.